quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Conto: "Só no sapatinho..."

Só no Sapatinho...   
                               Por Danuza Nogueira - Aluna do 8º período do Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza
              
            Marina era uma menina normal, até que um acidente a deixou com uma deficiência em uma de suas pernas, uma delas ficou menor que a outra. Devido a isso Marina foi obrigada a usar apenas sapatos modificados, que, embora fossem até bonitos, eram diferentes dos sapatos usados pelas meninas de sua escola.
            - Mãe, eu queria tanto um sapato igual ao das meninas do colégio. Compra para mim? – ela pedia a sua mãe.
            - Marina, minha filha, não podemos agora, um dia eu compro – respondia a mãe.
            Marina insistia todos os dias para que sua mãe comprasse o sapato da moda:
            - Mãe, e esse mês? Você pode comprar o sapato para mim? – pedia ela mais uma vez.
            - Marina, não podemos! Já disse! Um dia eu compro. – respondia sua mãe.
            O que a mãe de Marina não sabia é que na escola ela estava sendo alvo de piadas dos colegas, que riam dela por usar um sapato diferente, o que a deixava muito chateada.
            Sempre na hora da saída, um grupo de meninos e meninas se reuniam no pátio para espera-la passar com seu “sapatinho diferente” e começavam a cantar uma música e a gritar para ela:
            - Vai Marina, “só no sapatinho oh oh, só no sapatinhooo...”
            Nem todos cantavam e gritavam para ela, mas todos, de certa forma, contribuíam para ridicularizá-la, rindo dela. O episódio se repetiu durante quase todo o ano letivo.
            Com o tempo e as piadas dos colegas, Marina se tornou uma menina fechada e tímida e passou a ter dificuldade para se relacionar com as pessoas.
            Em casa Marina ainda insistia:
            - Mãe, compra o sapato para mim, por favor, compra? – implorava ela à mãe.
            - Marina, minha menina não podemos comprar agora, já disse, quando der eu vou comprar. – era sempre a mesma resposta.
            Em um belo dia, Marina estava muito chateada e, ao sair da sala de aula rumo à saída, se deparou com a cena que se repetia todos os dias: uma roda de meninos e meninas à sua espera cantando e gritando para ela:
- vai lá Marina: “só no sapatinho oh oh, só no sapatinhooo...” – cantavam entre gargalhadas.
            Foi então que Marina, num excesso de fúria, jogou para o lado sua mochila e cadernos e foi para o meio do pátio, deixando todos sem entender sua atitude, uma vez que sempre passava muito rápido pelo pátio a fim de não prolongar seu momento de vergonha.
            - O que ela está fazendo? – perguntavam-se todos
            Foi quando Marina, parada no meio do pátio, visível a todos que a humilhavam, começou a sambar ao ritmo do samba que todos os dias eles cantavam para ela.
            - Cantem, vamos, continuem cantando – ela pedia enquanto sambava e ria alegremente.
            Todos começaram a cantar ao seu redor e tudo virou uma grande diversão. Outras meninas se juntaram a ela, dançando.
            Depois desse dia, Marina voltou a ser a menina extrovertida que sempre fora antes que começassem a caçoar dela. Continuaram a cantar para ela, quando ela passava pelo pátio, mas agora não havia mais o tom de zombaria, pelo contrário, queriam que ela dançasse, e sempre que tinha tempo antes de ir embora, ela dançava um pouco, e por fim, acabou se tornando amiga de todos.


A grande questão não é o que fazem com você, mas o que você faz com o que fazem com você. 

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