sábado, 28 de fevereiro de 2015
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Meu conto
O que é ser professor? Esta é a frequente dúvida dos
licenciandos. Mediador do conhecimento? Condição de trabalho? Valorização da profissão?
Relação docente x discente... Muitos receios !!!!...Desafios!!!!
A escolha da escola para cumprir o componente curricular
previsto no Curso, apresenta-se como um desafio diante às tantas incógnitas no
campo educacional. Feita a escolha, vamos nós para o primeiro dia de mais uma
das etapas práticas do estágio.
Logo na entrada, vejo a modernidade, seja pelo uso de cores,
estrutura física (salas de aula, espaços de interação alunos e professores,
etc.), mas ao entrar, vejo a presença do igual e do tradicional, que apesar dos
recursos tecnológicos disponíveis para o professor, nota-se a mesma prática de
ensino, aulas no formato de palestras, alunos ouvintes, pouca participação.
O dado diferente do tradicional para modernidade é marcado
pelo uso, por parte dos alunos, de celulares e tablets. O espaço de
aprendizagem notado são salas “lacradas”, ou seja, portas e janelas fechadas,
ar condicionado (que frio!!). Tendo como descrição, o foco em manter a atenção
do aluno a “palestra” dos diferentes professores. O foco aprendizagem é voltado
para o resultado positivo em provas do ENEM e de vestibulares. O foco é
preparar o aluno para o sucesso. O foco é ter alunos que possibilitem
resultados positivos, tanto que o aluno reprovado não permanece na escola. Busca-se,
a todo momento, a excelência.
Nota-se a substituição de livros didáticos por apostilas
planejadas e construídas por um sistema de ensino privado. A escola é conteudista
(prepara o estudante para processos seletivos diversos). Professores sem autonomia.
Acessibilidade? O que é isso? Uma escola moderna com uma
estrutura física conservadora, muitas escadas. Fiquei pensando no aluno, no
professor, no estagiário “diferente”, como fariam. Não vi, durante o meu
percurso, a preocupação com diversidade, com a educação e direitos humanos.
Mesmo com limites, o professor “Michael” buscava ser
criativo, provocando os alunos, buscando interação. Utilizando de exemplos
atuais para ministrar o conteúdo estabelecido nas apostilas. Independente das
atividades já estabelecidas na apostila, aplicava outros.
E a coordenação pedagógica geral? Um momento marcante foi
quando ao ser perguntada sobre a existência de uma avaliação institucional, a
coordenadora gaguejou, engasgou, tossiu, ( o momento me preocupou em pensar que
não sabia socorrê-la rs...)..., silêncio
presente e a busca de uma resposta que não demonstrasse uma incoerência ou
inconsistência. Uma preocupação com uma exposição negativa da escola para
alguém (eu estagiária) que estava de passagem. Percebendo, confesso, tive
vontade de rir, mas me contive, até porque me coloquei no lugar dela. Foi
quando obtive a resposta que, particularmente, já esperava: “Avaliação
institucional? Existe sim, ela é feita a partir dos resultados dos alunos nas
provas, nos simulados, no ranking nacional”.
Retomo a minha pergunta, o que é ser professor? Qual o papel
da Escola? O que ensinar? E o aprendizado? O conhecimento, de que forma se dá?
“O salário oh!”
Sentado no ponto de ônibus olhando
o relógio pela quinta vez. Tendo passado quarenta
minutos e o
transporte não vinha. A tensão de chegar atrasado no primeiro dia de
estágio começava a tomar meu corpo e como primeira consequência começava a
lamentar o fato de ter escolhido uma escola tão distante de minha casa. De
repente o ônibus surge, retomo o ânimo e a empolgação de conhecer uma escola da
zona rural ressurge.
Chegando
à escola sou apresentado à diretora, ao professor com quem estagiarei e me
conduzem por uma rápida visita à escola e em seguida sou conduzido à sala de
aula. Sou apresentado aos alunos e o professor começa a lecionar. Observo-o com
atenção, me imaginando em seu lugar, refletindo sobre o que eu faria de
diferente. Em determinado momento os alunos iniciam uma algazarra e o professor
pede silêncio: "-Moçada vamos lá! Eu ganho para dar aula e não para
aguentar a bagunça de vocês. Aliás, mesmo pra primeira, eu ganho muito pouco."
Ainda refletia o quão diferente seria minha abordagem quando sou surpreendido
por um aluno: "- Que isso fessor, ocê ganha bem pra caramba, eu trabalho
um monte e ganho nem metade do que tu ganha."
Tomado
pelo furor pedagógico realizo minha intervenção, afinal sempre soube que a
profissão que eu havia escolhido seria mal remunerada, mas pensava que isso
seria de conhecimento de todos, mas principalmente que de meus alunos: Inicio
buscando uma abordagem lúdica: "-Vocês viam a Escolinha do professor Raimundo?"
A
classe responde em coro: "- Nãaaaao"
Concluindo
o quanto estou ficando velho, busco uma nova abordagem: " - Vocês sabem
quanto ganha um professor na Coréia do Sul?"
Mostrando-se
resistente meu debatedor dispara: "- Fessor ocê sabe quanto ganha um lavador
de ônibus na Coréia?"
"
- Um lavador de ônibus na Coréia, ganha bem mais do que no Brasil e
possivelmente trabalha menos, pois a lavagem lá é mecanizada, o lavador só
opera o equipamento. O motivo dele ganhar mais que seu colega de ofício
brasileiro é o fato de ele ter tido uma educação melhor e esta diferença
educacional se dá entre outros motivos pelo fato dos professores na Coreanos
ganharem uma remuneração muito melhor do que no Brasil. Todos nós merecemos
ganhar mais, mas para isso é preciso termos uma educação de qualidade e esta
qualidade exige uma remuneração mais digna aos professores." A turma fez
um "uhhh"e o aluno sentou resmungando um "- Tendi." Após o
debate a aula foi encerrada. Enquanto esperava mais uns quarenta minutos pelo
ônibus de volta, ficava imaginando minha próxima intervenção em sala de aula e
desfrutando do prazer indescritível que é ser professor.
A prova de Geografia
Num dia em que poderia
ser como qualquer outro, para qualquer pessoa comum, algo inusitado aconteceu em
uma pacata escola pública da zona rural, numa cidadezinha do interior. Havia
uma adolescente chamada Maria Heloísa que ia à escola todos os dias, mas num
dia de entrega das notas de provas realizadas de geografia, algo surpreendeu:
A professora Eva chama os alunos conforme ia
pegando as provas:
- João, sua prova!
Parabéns! Continue sempre assim. Disse a professora Eva.
Os colegas de classe
ficaram apreensivos para receberem suas notas e olhavam atentamente para
professora com a voz pesada e trêmula, devido a sua avançada idade.
Maria Heloísa, sentada
no fundo da sala, exibia uma expressão confiante e contente, com seu uniforme
limpo e arrumado e com seus cachos – úmidos, negros e soltos.
Chegou a hora mais
esperada para Maria Heloísa:
Maria Heloísa levantou-se
sorridente em direção à sua professora, e esta lhe disse:
-Parabéns, querida!
Novamente, você conseguiu me surpreender. Outra nota zero!
Maria Heloísa, respondeu:
- Fazer o quê,
professora?! Eu já sabia. Num estudei mermo. Risos
Namoro na escola
No Colégio, um casal de
namorados se encontrava em uma das salas do 9° ano. Apaixonados e ligados um ao
outro, Ana Luiza e Pedro, começaram a namorar na metade do ano. A partir desse
período, na qual Ana Luiza foi mudada de turma, cursando o restante do ano na
sala do Pedro, a nota dos dois caiu bastante. Pedro, sempre sentado na frente
de sua namorada, assistia suas aulas virado para trás, debruçado na carteira do
seu “amor”. A conversa, bilhetes e trocas de mensagens pelo celular, “rolavam
soltas” todo tempo. O Pedro nem mesmo copiava do quadro as informações do conteúdo
passado pelo professor, e muitas vezes quando havia atividades valendo nota,
corria para pegar com os colegas ao lado. O mais triste de tudo, é que no final
do ano o Pedro ficou de recuperação e a Ana Luiza passou raspando segundo seu
professor de Geografia.
Mas será que o professor não
deveria ter estratégias para ajudar os mesmos a amadurecerem e dar prioridade a
educação a tempo? E ajudá-los a separar sala de aula e namoro? Ou o educador
não tem obrigação de fazer esse tipo de avaliação e trabalho em sala?
Realidades como essa são observadas em muitas salas de aula e o professor deve
estar capacitado a lidar com eles. Tendo como prioridade o desenvolvimento
cognitivo de cada aluno, percebendo suas limitações e bloqueios educacionais. E
você, o que faria nessa situação? Quais seriam suas estratégias?
Futuro rifado
Era uma vez uma turma de Ensino Médio muito
grande, cerca de 45 alunos. Eu, uma estagiária, que não tinha muito tempo para
ficar com eles. Todos os dias, eu chegava nesta turma e não tinha nem uma
carteira para eu sentar. A turma era muito bagunceira, as carteiras ficavam
fora da fila, eram usadas para colocar os pés e os materiais, havia lixo no
chão e muita algazarra. Eles mal respeitavam o seu próprio professor e eu
ficava a me perguntar se eles me respeitariam.
Até que um dia, uma menina -
em plena aula - me pediu para comprar uma rifa, disse que era para a formatura
da turma. Não demorou e juntou em minha volta um grupinho insistindo para eu
comprar a rifa, disse simplesmente que depois da aula a gente conversava, pois
estávamos atrapalhando. Até que a aula acabou e elas vieram novamente pedir
para eu comprar a rifa, perguntei sem medo como elas poderiam estar pensando em
formatura se mal prestavam a atenção na aula, se elas achavam que tinham feito
um bom Ensino Médio e se estavam preparadas para enfrentar o mundo lá fora.
Pedi para que olhassem em volta da sala e vissem a zona que estava àquela sala
de aula, então me levantei e comecei a recolher o lixo no chão e a arrumar as
carteiras no lugar, então elas vieram me ajudar.
Comprei a rifa e disse que no dia seguinte daria uma aula de um assunto
muito interessante e que deveriam prestar atenção. No dia da aula, quando
cheguei, elas deram um “Bom dia, professora!” e arrumaram uma carteira para eu
sentar até que o professor anunciou a minha aula e pediu a colaboração de
todos. Acho que isso ajudou um pouco para o desenvolvimento da aula já que as
próprias alunas chamavam a atenção de seus colegas quando começava a tumultuar.
História de uma adolescente
Quando acompanhei as aulas
como estagiária co-participativa, ajudei a professora Sandra a aplicar um
trabalho, que foi uma apresentação em grupo, e uma aluna me chamou muito a
atenção. Luana era uma adolescente de 17 anos e ainda se encontrava no 1° ano
do Ensino Médio e na apresentação dela, enquanto todos os alunos levavam com
seriedade aquele trabalho, ela levava tudo na brincadeira. Quando foi informar
a nota a aluna, a professora Sandra falou: - Sua Nota! Zero de novo Luana, você
ainda não se acostumou com isso!? Quando ouvi isso, fiquei perplexa!
Outro dia, quando estava em
sala, na hora do intervalo, Luana veio conversar comigo. Perguntou por que eu havia
escolhido a profissão de professora. Falei para ela sobre minha paixão por
Geografia e da importância do professor na nossa formação pela vida. Ela me
ouviu atenta. Então, aproveitei para perguntá-la por que havia apresentado o
trabalho daquela forma. Então, ela começou a me falar da vida dela. Disse que
tinha os pais separados, a mãe não se importava com ela, a avó que ela mais
amava havia falecido há duas semanas, e o pai dela ha dois anos que não a
procurava. Ela me falou que ninguém se importava como estava indo na escola e
que ela estava desmotiva para seguir. Isso me levou a uma série de reflexões
sobre o comportamento da Luana e dos demais alunos.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Momentos de um estagiário
No inicio foi um pouco complicado ter alguém
disponível para dar informações, até mesmo porque o meu tempo disponível muitas
vezes não era compatível com os profissionais que poderiam esclarecer minhas
pesquisas, mas no decorrer de contatos e diálogos consegui dobrar e vencer esta
dificuldade.
Fatores que analisei foram as diferenças em relação aprendizado nas
aulas dos alunos, em que expor conteúdo somente teoricamente dificultava muitas
vezes o entendimento e concentração destes alunos, e quando ocorria uma forma
mais interativa a aula se tornava mais participativa e com resultados mais positivos em relação ao aprendizado, o que
prova que os métodos tradicionais de ensino pode muitas vezes apagar a
possibilidade de um aluno fluir, pois a pouca maturidade do estudante pode
dificultar o entendimento direto da necessidade de concentração destes na aula
teórica, e até impedir o professor de notar as dificuldades de alunos que numa
forma tradicional não saberiam expressar estas dificuldades, já numa aula
dinâmica se dar abertura a exposição de experiências, idéias e questionamentos
fazendo assim o professor conhecer melhor os alunos. Isto como observadora
conseguir ver na sala de aula, tem como sentir uma aula com um bom rendimento
em que se ver alunos satisfeitos e
infelizmente em outras aulas aluno entediados.
Concluo que além da dificuldade de comunicação no início o qual foi
resolvida e consegui atingir as metas necessárias para respostas que precisava,
o desenvolvimento do estágio foi de extremo aprendizado para mim, em que o meu
contato com 6º ao 9º e
ensino médio me impressionou, com a sede do novo, com os planos dos
alunos e infelizmente com o comodismo de alguns, mas reforço que uma boa aula
pode aguçar todo esta curiosidade do aprender destes, que podem sentar nestas
cadeiras que sento hoje em dia na faculdade, ou até mesmos na cadeira de salas
para técnico em que já sentei um dia. O interessante é mostrar para estas
mentes que sempre teremos o que aprender e descobrir e o melhor é sempre buscar
aprender e descobrir!
Escobar no reino de um estagiário
E
|
ra uma tarde. Treze de junho de dois mil
e treze, quinta-feira. Escobar se prepara e sai para estagiar, desce pela Rua JPX.
Já são quatorze horas e a aula de geografia na 802 começa daqui a dez minutos. É
preciso andar bem rápido! Sorte de Escobar que entre ele e a escola tem apenas
uma ponte para atravessar e em cinco minutos conseguirá cruzar o portão de
entrada do colégio.
Ufa, que correria! Escobar
chega à escola, saúda Luz, a senhora responsável pela portaria e já se dirige à
sala de número cinco, a sala da turma 802. Poucos alunos estavam no recinto,
pois o professor antecedente à professora de geografia havia liberado a turma
alguns minutos antes do sinal, mas era perceptível uma grande quantidade de
mochilas sobre as mesas (durante a aula, pode-se constatar a presença de vinte
e oito alunos). Escobar cumprimenta os alunos, pede licença e procura, logo, um
lugar no fundo da sala em posição estratégica para que pudesse observar todos
ao mesmo tempo. Era o sexto dia de Escobar no campo de estágio e a primeira vez
naquela turma. Para os alunos tudo parecia novidade, alguns perguntavam:
_ Você é aluno novo?
_ Vai estudar com a
gente?
_ O que está fazendo
aqui? Veio nos vigiar?
_ Veio substituir a
professora?
Era necessário ter
paciência e responder cada questionamento, explicando a cada um que ele era
apenas um estagiário. Para alguns era difícil compreender a função de um
estagiário, então, por alguns minutos foi necessário explicar com detalhes a
sua função naquele lugar. Uns compreenderam, outros se espantaram repudiando a
pessoa do professor enquanto profissional: _ “Professor! Isso não dá dinheiro”.
Talvez esse seja o maior
interrogatório em menor tempo, parecia um Tribunal Romano, mas todo esse
turbilhão logo foi encerrado, a professora chegou...
Catarina. Professora
Catarina, esse era o seu nome (derivado do grego e com um belo significado:
pura. Quanta pureza!). Saudou a turma com boa tarde, deixou a bolsa sobre a
mesa e retornou à sala dos professores. Demonstrou ter esquecido alguma coisa,
e realmente esqueceu. Voltou à sala de aula com um Mapa Mundi na mão. A turma
parecia uma colmeia zangada, o barulho era espantoso. Escobar permanecia
sentado, apenas observando e respondendo aquilo que lhe perguntavam. Catarina
pede silêncio, o ruído diminui.
Junho de dois mil e
treze era um momento especial para o esporte brasileiro, ou melhor, para o
futebol, naquela semana se daria a abertura da Copa das Confederações. Este foi
o motivo que fez Catarina retorna à sala dos professores e trazer consigo um
mapa. Durante a semana ela assistiu pela TV uma reportagem sobre as delegações participantes
da Copa das Confederações e muitos telespectadores estavam confundindo Taiti, Haiti
e Havaí, ou diziam desconhecer tais territórios. Catarina então justificou com os alunos que
esse não seria o tema da aula, mas que na condição de professora de geografia
era necessário esclarecer estas dúvidas. E assim fez.
Com toda essa cerimônia
já se passavam uns vinte e cinco minutos da aula. Então Catarina pede para que
abram os livros na unidade oito. Nesse instante a aula é interrompida... João,
aluno daquela turma resolve chegar para aula naquele momento, até aí tudo bem, “melhor
chegar atrasado que não vir”, argumentou um colega. João pede licença. A professora
concede. Não satisfeito somente em chegar atrasado, entra em sala e já começa a
perturbar a atenção dos colegas, chama, puxa, fala, pega o celular, interrompe
Catarina. Por algumas vezes Catarina pediu silêncio, mas de nada adiantou. “Paciência
tem limite”, brada a professora com os olhos arregalados e com a aparência de
um ser que encontra uma assombração. Escobar fica constrangido, mas procura não
demonstrar.
_ Fora! Saia da minha
aula. Chega atrasado e não dá sossego, da próxima vez não venha, gritava
Catarina.
Abre-se, nesse momento,
um parêntese na imaginação de Escobar: estaria a professora estressada e sua
atitude foi influenciada por tal estresse ou não? Ou quem sabe, realmente, o
João estava atrapalhando o desenvolvimento da aula? Talvez um pouco mais de
diálogo resolvesse a situação. A confusão mental, por alguns segundos, pairou
sobre a cabeça do estagiário Escobar.
Catarina pede a Bia
(aluna da classe) que chame Belinha, para quem não conhece, é a inspetora de
alunos. Belinha veio e levou consigo o João (...). Após esse contratempo a aula
seguiu normalmente, Catarina concluiu a explicação do conteúdo e aplicou uma atividade.
O sinal bateu, já se passavam das quinze horas e quarenta minutos. O tempo
acabou. Catarina deixa o seu último recado: “na próxima aula teremos revisão
para a prova”. Os alunos saem. Nesse momento, fica na sala somente Catarina e
Escobar. O estagiário solicita que ela assine a ficha de registro do estágio.
Em seguida agradece, deseja-lhe uma boa tarde e retira-se da sala.
O ENCANTO DE UM CONTO GEOGRÁFICO
Certa vez, em uma
escolhinha que se chamava Riacho Molhado, havia uma turma de 9.° ano, que era
composta por 34 aluninhos presentes.
Nessa turminha,
destacavam-se por seu caráter e poder de dispersão das aulas um grupinho, que
era denominado de Club do Boloinha. O Club do Bolinha, era formado por Clóvis,
Eurípedes, Francisquinha, Valdo e Alessandra Janaína.
Durante as aulas
ministradas pela professora Fernanda Militão, a inquietude e os zumbidos na
sala era constantes, provocados pelo Club do Bolinha. A professora Fernanda
Militão ao ver todo aquele barulho, chamava-os a sua atenção, no entanto, era
questão de minutos para que todo aquele “zum zum zum “ voltasse a circular pela
sala e a aula novamente ser interrompida.
No entanto, certa vez,
quando apareceu um estagiário, cujo nome estranhamente era chamado de “Marte”,
e começou a freqüentar as aulas da professora Fernanda Militão, a turma receosa
começou também a observar Marte.
Alguns dias se passaram,
e Fernanda Militão concedeu uma de suas aulas para que Marte já “conhecendo a
turma”, pudesse lecionar a respeito de um determinado tema que até então era
tachado como Chato pela turma em geral. Chegado o Dia, Marte chega na sala, e
antes mesmo do boa tarde, Alessandra Janaína, Valdo e Clóvis o recepcionam logo
com uma pergunta: Será você que dará aula hoje? Marte respeitosamente responde
dizendo que sim, e que além disso, a aula seria na sala de vídeo. Logo que souberam que a aula seria ministrada
na sala de vídeo, Eurípedes e Francisquinha foram os primeiros a correr para a
sala para marcar seus lugares no “fundão”.
Começado a aula, Marte
conversou um pouco com a turma, e logo anunciou que a turma assistiria um vídeo
que ajudaria no entendimento da aula. O vídeo começou e a turma se calou!
Depois que terminou o vídeo, Marte levantou algumas provocações a respeito do
tema, relacionando com a vivência dos alunos, e os mesmos participaram
ativamente, até mesmo o Club do Bolinha. Contudo, ao término da aula, a turma
sorridente, agradeceu a Marte, e disse que sua aula poderia substituir as da
professora Fernanda Militão, pois segundo eles, as aulas eram chatas, monótonas
e sempre se remetiam aos contextos históricos, enfatizando-os como se fosse uma
aula de história.
Dias depois, a
professora Fernanda Militão em conversa com Marte, contou que ficou surpresa
com o comportamento da turma e que as mesmas adoraram a aula dada por Marte. Ao
longo da conversa, Fernanda Militão contou para Marte que sua formação era em
História, e a partir daí, Marte foi capaz de entender o porquê de a turma ter
esse comportamento, pois as aulas de Geografia, na verdade estavam virando
aulas de Histórias.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Eu, meu projeto e eles
Era um grande desafio,
tentar fazer com que a turma inteira interagisse com a proposta que tínhamos
levado, no começo, meus olhos transpareciam medo, de que algo não desse certo, mas tinha ao meu lado
grandes companheiros que me passavam muita segurança. Então, preparamos um
grande projeto enchemos o peito de esperança e com muita ansiedade partimos
para a prática. Organizamos a ordem de quem ia apresentar o projeto, e assim
deu início com a amiga Ana apresentando nossa proposta, os alunos mostraram
pouco interesse. A fim de tentar reverter a situação, argumentei, porém, pouco
consegui. Então, uma próxima etapa viria, íamos recolher as fotos que tínhamos
pedido no momento anterior, e realmente não estávamos com muita sorte, poucos
atenderam e comprometeram o projeto. Resolvemos então dar um último prazo e
reunimos o material que precisávamos. Com muita expectativa, aguardamos a última
fase do projeto que seria a exposição do material recolhido.
Até
que chegou o grande dia, entramos na sala de aula. Era um dia muito quente e a sala estava super
lotada, como se configura o cenário da maiorias das escolas publicas. Assim
então, começamos a montar todos os equipamentos para a apresentação.
Entretanto, percebemos que os equipamentos não funcionavam,. Olhávamos um para
o rosto do outro, com muito desespero e medo de que tudo fosse por água abaixo,
até mesmo com a ajuda dos alunos, nada funcionava... até que no meu auge de desespero, olhei para Drummond
e disse: vamos apresentar mesmo sem apoio digital?. O desespero estava
estampado nas faces de todos ali. Segui
o que tínhamos combinado com as mãos trêmulas e a voz embarcada apresentei as
imagens recolhidas e assim foi se tornando o que parecia um fracasso um grande
sucesso. A turma, inicialmente desinteressada, foi contagiada por aqueles que
acreditaram e a troca de conhecimento cultural e científico acabou sendo
enriquecedor e o que parecia ter um final trágico e fracassado se tornou um grande
sucesso, conseguimos transformar um limão em uma limonada!
A recompensa do esforço
O que me chamou a atenção neste período de
estágio em escola pública foi a constatação da grande quantidade de jovens que
encaram os estudos como uma diversão, um entretenimento e não como uma porta de
esperança para um futuro diferente de muitos de seus pais.
Como em toda regra têm exceções, existem
também aqueles alunos que ultrapassaram os obstáculos dos Bullyings escolares
presentes na vida estudantil.
Aos
alunos que conseguem terminar o Ensino Médio e que logo dão continuidade aos
estudos através do Enem ou vestibular, ou ingressam em algum curso técnico, têm
mais chances de um futuro promissor do que aqueles que param de estudar.
Outra
questão que me chamou atenção foi o fato de muitos alunos da área rural estarem
estudando zona urbana graças à viabilidade de transportes escolares mantidos
pela prefeitura local. Esses alunos não pagam o veículo escolar já que as
escolas que eles já estudavam foram desativadas.
O Aluno que não estava lá
Durante o estágio do
7º período do curso de Licenciatura em Geografia, acompanhei várias turmas do
1º ao 3º ano. Notei vários alunos com dificuldade na matéria, mas um específico
chamou minha atenção.
Em uma das turmas do 1º ano. João
ficava “voando” durante toda a aula.
Quando
o professor o questionava ou solicitava sua participação, ele nunca sabia o
assunto que estava sendo tratado. Nas poucas vezes em que o aluno participava,
ele fazia perguntas muito abaixo do esperado para o nível da turma.
Na reunião do Conselho de Classe,
soube que esse aluno agia dessa maneira em todas as outras matérias, ele se
desligava das aulas e não acompanhava as atividades desenvolvidas, sua
participação só acontecia quando o professor solicitava. Como a turma era
pequena, contava com - aproximadamente - 13 alunos, era fácil perceber sua falta de
atenção, exigindo que o professor sempre o abordasse.
Quase no final do estágio, eu
abordei o João e perguntei o que acontecia com ele já que eu percebia que ele
estava meio desligado. Ele me disse que trabalhava durante o dia e ficava muito
cansado para acompanhar as aulas no período noturno.
Desventuras por um remoto controle
Em certa sexta feira pela manhã, o ponteiro do relógio
marcava ainda antes das 10h, o local era a escola uma escola pública da rede
estadual, o dia se apresentava com certa familiaridade, entretanto algo
diferente aconteceria. E ela, uma invenção de 1954, conhecida como televisão,
estaria envolvida no ocorrido.
As estagiárias chegaram todas animadas para
apresentarem fotos de sua cidade, então era necessária a utilização da televisão
da sala de aula. Então se iniciou a corrida atrás do controle remoto que era
indispensável para dar vida ao televisor.
Busca aqui, caça ali, procura acolá e nada do controle
aparecer e assim passaram-se ¼ de hora, até que Stella Lima, uma linda aluna da
2001, apresentou uma suposta solução dizendo: “Ei! Aqui na sala tem um menino
que possui um celular que pode ser usado como controle remoto da televisão,
deste modo podemos ligar a TV e usá-la!”. A estagiária animada logo respondeu:
“Nossa Stella que boa ideia!”.
Nesse meio tempo, um tempo de aula já havia passado,
pois é o tempo passa depressa e já era chegada hora do intervalo, então todos
se encaminham para a área central da escola, entre conversas e briguinhas sem
fundamento os 20 minutos de descanso se passaram e era chegada a hora de voltar
à aula, que naquele momento era de geografia.
Mas, aí quando as estagiarias (já cansadas e sem
esperança), foi então procurar o tal menino que se chamava Tiago Simeão, cadê o
rapaz? Já era ouvido o som do sinal, simbolizando o fim do intervalo e nada do
menino retornar. Cadê esse menino? Ele tá aonde? Gente, ele veio mesmo para a
escola hoje? Essas são algumas das perguntas que saía da boca das estagiárias.
Sensibilizado com a procura do remoto controle, eis
que se levanta o Pietro e pergunta: “Será que posso ir lá fora e procurar o
Tiago?”, a resposta fora Sim, vai!
Eis que o Tiago é resgatado por Pietro, e então
utiliza seu aparelho celular para a TV ligar. NOSSA! Naquele momento o celular
parecia à salvação, a solução.
Ufa! Logo pensaram as estagiarias, até que enfim
conseguimos, mas ligar a TV não fora o suficiente para solucionar a questão.
Os alunos informaram que o uso da TV era proibido e se
caso a pobre se danificasse a culpa não ia ser das estrelas, pois é ... a culpa
ia ser das estagiárias.
Nesse instante, os olhares das estagiárias se enchem
de decepção. A busca pelo remoto controle havia se encerrado e a aula
finalmente ia começar, não como se havia planejado, mas de forma diferente e
cheia de obstáculos. Mas, no final, isso que de fato importa tudo deu certo, o
controle já não estava, mas no remoto controle, o controle agora era delas.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
As aventuras de um licenciando
O
final do ano de 2014 foi um tempo de momentos difíceis na escola de estágio.
Pude presenciar uma situação que deveria ser fora do comum, fora do cotidiano
de um professor. A princípio, poderíamos achar que se tratava de um caso
isolado de uma escola pública, mas - ao dialogar com outros colegas professores
- pude perceber que, ao menos, aquela situação foi básica e que outros colegas
já tinham passado por coisas muito mais complicadas em escolas estaduais do
Estado do Rio de Janeiro e, em especial, na Região Metropolitana.
No
fim do 2° semestre, algo me chamou a atenção: após discutir na rua, um aluno
foi ao dia de aula normalmente, só que de normal para mim aquele dia não teve
nada. No período da tarde, fui surpreendido por uma confusão. Pessoas da
comunidade entraram na escola e surraram um aluno que havia arrumado uma
confusão.
Após
o acontecimento, foi solicitado que a mãe do aluno fosse à escola para esclarecimento
do fato ocorrido. Após alguns minutos de conversa, a diretora - que conversava
com os responsáveis - foi surpreendida por um inspetor que veio às pressas
avisar que os rapazes que tinham entrado na escola, estavam novamente
presentes. Só que, desta vez, eles
estariam armados para "executar" o aluno. Assustados, a ação
impensada ou talvez melhor e imediata a ser tomada, foi se fechar na sala da
direção que era isolada por uma antessala e aguardar para que nada de mais
acontecesse até a chegada das autoridades.
Foram
momentos de pânico e tensão, uma vez que uma das portas já havia sido arrombada.
Mediante aquela tensão, alguns questionamentos surgiram: O que fazer? Nunca
fomos preparados para isso, e agora?
Alguns
minutos se passaram e, não conseguindo entrar na sala e mediante a aproximação
da polícia, os rapazes foram embora e a escola veio a se tornar caso de jornal.
Graças
a Deus nada de pior aconteceu, mas a tensão - sem dúvidas - de aprendizado
serviu.
Até
que ponto isso se faz comum na vida de um professor?
Educar
“somente” seria o papel do professor ou, mais que isso, devemos nos preparar e
nos formar para vida e seus desafios?
Lecionar,
sem dúvidas, é uma caixinha de surpresa! Um dia nunca será igual ao outro.
Gravidez na adolescência
Ao Estagiar em uma turma do 9º ano, no ano
de 2013, pude observar que uma menina de 14 e um menino de 16 anos estavam a
namorar.
Eles se encontravam no recreio (intervalo)
e sempre uma amiga ficava a porta para vigiar, quando alguém aparecia no
corredor ela avisava. Thiago e Cristina estavam apaixonados, ela tinha
permissão da mãe para namorar, mas a diretora da escola não permitia namoro nas
dependências da escola. Eles pareciam cada vez mais apaixonados, não percebiam
que aquela paixão estava se tornando algo muito sério. Até que, um dia, Fabiana,
a amiga, revelou para a professora que Cristina estava grávida. A moça não
sabia o que fazer, pois mesmo com a permissão da mãe ela não estava preparada
pra ser mãe. Pensava em fazer um aborto, mas com a ajuda da amiga e da
professora, Cristina - mesmo sendo uma menina inexperiente - pode ter sua
filha. Eles conseguiram terminar o ano letivo com muitas dificuldades, as notas
não foram as melhores, mas sua filha nasceu com saúde e perfeita.
A atitude da professora e da amiga foi
perfeita, elas conseguiram com êxodo resolver toda a situação. Se não fosse a
amiga e a professora, talvez ela tivesse feito o aborto e com certeza teria
parado de estudar. O educador, além de educar, também é um psicólogo, amigo,
conselheiro, companheiro, ajuda nos momentos de dor. O professor deve estar
capacitado a lidar com esses tipos de situações.
GEOGRAFIA AO AR LIVRE
A atual apresentação se dá como desdobramento do relatório de estágio,
desenvolvido pelo curso de licenciatura em Geografia do Instituto Federal
Fluminense. No presente trabalho, será abordado um estudo de caso em forma de
conto que foi observado durante o 5º período, onde foi possível notar o
fenômeno da questão. Sendo esse, o primeiro entre outras expressões capturadas
quando comecei a articular, por intermédio da instituição, a teoria e a prática.
Remete-se, portanto, a uma situação à qual me deparei após uma aula, cujo tema era territorialidade, ou seja, a percepção de PODER que um grupo exerce em parte do Espaço Geográfico.
Remete-se, portanto, a uma situação à qual me deparei após uma aula, cujo tema era territorialidade, ou seja, a percepção de PODER que um grupo exerce em parte do Espaço Geográfico.
A professora de Geografia começou a lecionar e eu apenas ocupava a
posição denominada estágio de observação e co-observação. Era numa turma do 8º
ano do Ensino Fundamental. Foi na primeira semana de estágio, quando fui
apresentada a essa turma. Percebi que os alunos eram alegres e espontâneos. Mas
isso foi algo que julguei essencial sendo uma boa fluidez inicial, para uma
posterior comunicação e interação. No entanto, quando eles se direcionaram para
o pátio da Escola, fiquei observando a estrutura da instituição, se havia
biblioteca e como era sua forma de organização. O ambiente estava rodeado por
mim, até que, os alunos me reconheceram. Eles correram da quadra até a mim
sugerindo que eu chutasse a bola de volta, o que me chamou logo a atenção. Havia
um barulho típico de quando há um grupo jogando futebol. Por reflexo, dei um
chute de retribuição. Mas alguém disse em tom de brincadeira: -“pow, perna de
pau, hein!”. Quando olhei pra saber de quem era aquela voz com timbre intermediário
tive uma surpresa, era da professora de Geografia! Fiquei me perguntando como
seria possível, uma professora de Geografia, jogando bola com seus alunos na
hora do intervalo, e ainda ser divertida... aquilo me intrigava. No mínimo curioso,
uma cena atípica. Pelo menos assim a defino hoje em dia.
Mas depois me dei conta que a professora utilizava as experiências
cotidianas para dar ênfase à sua aula. Pois a escola tem o papel de ensinar e
instrumentalizar o indivíduo a se orientar em sua vida prática e em seu
cotidiano. A disciplina de Geografia é também responsável por desenvolver um
saber que ampare o indivíduo em suas demandas sociais. De modo que, é
interessante como a Geopolítica Mundial pode, em pequena escala, ser observada.
Assim sendo, penso que naquele momento entendi o que realmente aconteceu
naquele dia: teoria e prática se encontraram de um modo surpreendente.
Um certo Djavan
A partir do 6º período, comecei a
ter contato com os alunos do Ensino Médio. Desde então, notei em sala já nos
primeiros encontros que tive com a turma do 1º ano do Ensino Médio, a presença
de um adolescente que em meio à turma se sobressaia dada a sua estatura
diferenciada cerca de 1.90m, e que todas as conversas da turma tinha como ponto
de partida o Luís Gustavo de 17 anos, mais conhecido como “Djavan” devido aos
cabelos longos e encaracolados, e pelo violão que gostava de tocar.
Djavan,
em todas as aulas, falava muito e buscava atenção para si, de forma que eu e o
aluno da UFF - enquanto estagiários na turma - começamos a perceber que seu
comportamento dificultava a aplicação da aula pelo professor que ao entrar a
sala já colocava uma tabela especificando desconto nos pontos dos alunos caso
houvesse algum caso de indisciplina. Normalmente essa tabela trazia a seguinte
informação: menos cinco pontos. Logo, todo aluno que se comportava “fora dos
padrões desejados pelo professor” tinha seu nome escrito naquela tabela
indicando menos cinco pontos na avaliação.
Certo
dia, em conversa em um dos intervalos, surgiu entre nós estagiários a ideia de
nos aproximarmos do Djavan, já preocupados com o nosso futuro, pois teríamos
que dar aula na turma e não queríamos que fosse aplicado aquele tipo de punição
aos alunos.
Fizemos
um primeiro contato em um dos intervalos e começamos adquirir confiança dele.
Em outro dia, o outro estagiário lhe fez algumas perguntas, e dentre elas se o
Djavan praticava alguma atividade física, ou algum esporte. Ele perguntou
também quais eram as pretensões profissionais do rapaz. Para nossa surpresa, Djavan relatou que esporadicamente
jogava futebol com os amigos. Surgiu então a ideia de perguntar se ele gostaria
de tentar jogar basquete, sua resposta foi que
iria tentar e, posteriormente, nos falaria.
Interessante
que Djavan passou a jogar basquete e ao longo do período que estivemos juntos
sempre conversávamos, isto acontecia antes da aula, nos intervalos e, às vezes,
a conversa ia além da sala de aula, nas redes sociais.
Finalmente, chegou o dia de
aplicação da aula e Djavan já estava “de bem” conosco e com a turma. A aula
fluiu tranquilamente. Recentemente, em conversa com ele, perguntei se ele já
tinha em mente que caminho gostaria de seguir profissionalmente. Sua resposta
me surpreendeu: jogador de basquete, caso não consiga obter êxito, Professor de
Geografia, logo o animei. Disse que estava surpreso pelo que ouvi, mas que seu
desempenho nas disciplinas Geografia e Física são ótimos e – se por ventura
escolher ser professor – será um bom caminho.
O
que nos deixou perplexos foi ver que uma tentativa de nos darmos bem na aula que
iríamos aplicar poderia contribuir para ajudar o adolescente melhorar o
comportamento em sala e também levá-lo a fazer escolhas relacionadas ao seu
futuro.
Ajudo ou atrapalho?
Durante
todo o período do estágio, desde o quarto período, foi possível notar a
diversidade de comportamento e níveis de aprendizado presente na sala de aula.
Essa diversidade do corpo de alunos revela o tamanho do desafio que o professor
enfrenta ao exercer a docência. Porém, faz-se necessário destacar o desafio que
o alunado enfrenta ao se deparar com colegas de sala de aula com diferentes
características e capacidade de compreensão proposto em sala de aula. Pois, em
uma turma de 30 alunos do 1.° ano do Ensino Médio (turma na qual foi realizada
parte do estágio), existem diversos “tipos” de alunos, o que pode trazer
benefícios e malefícios ao professor e aos próprios alunos: O benefício, por
exemplo, realiza-se quando um aluno tímido possui uma dúvida mas não tem
coragem de perguntar ao professor perante a turma, já o aluno mais extrovertido
possui a mesma dúvida e pergunta ao professor e, por consequência, beneficia o
colega visto que o professor explicará tal dúvida ou dificuldade. O malefício
ocorre a partir do momento em que existe um aluno, ou determinado número de
alunos, que atrapalham a aula, falam enquanto o professor ministra a aula,
porém eles não possuem dificuldade de compreender o conteúdo proposto pelo
professor. Mas, isso acaba por atrapalhar outros alunos que prestam atenção na
aula e que possuem dificuldade de aprendizado. O conto a seguir enfatiza tal
problema enfrentado pelo professor e alunos nas salas de aula:
Na
turma do 1.° ano A existe um aluno chamado Manoel. Manoel é um aluno elogiado
pelos professores, no que tange a sua inteligência e sua capacidade de
compreensão. É um aluno comunicativo, simpático, extrovertido e alegre. Até aí,
só elogios. Porém, quando perguntados a respeito do comportamento em sala de
aula os professores dizem: - Manoel? Não para de falar um segundo. Sempre faz
brincadeiras com tudo e com todos, o que faz por muitas vezes desviar a atenção
da aula para ele. Durante o estágio na turma, foi possível perceber que Manoel
aprende o conteúdo rapidamente e logo depois começa com as brincadeiras. Isso
acarreta um problema sério, pois nem todos os alunos da turma possuem a
capacidade e rapidez de compreensão que ele possui. Ele não faz os exercícios
em sala de aula, e às vezes faz o de casa. Só que na hora da avaliação e
seminários, Manoel atinge as melhores notas da turma em todas as disciplinas.
Mas, alguns alunos sofrem com essas características de Manoel. A Ana é um
exemplo disso: ela se esforça para prestar atenção nas aulas e Manoel acaba por
dificultar a sua concentração. Assim, Manoel contribui de forma considerável
para o baixo rendimento de Ana, que já possui problemas de aprendizado.
Manoel
já conversou diversas vezes com a orientação educacional do colégio, os pais já
compareceram no colégio algumas vezes ao longo do ano letivo, mas seu problema
comportamental continuou. O que chamou atenção em Manoel foi a capacidade de
assimilar o conteúdo rapidamente, brincar e quando o professor parava a aula
para direcionar uma pergunta a ele a respeito do conteúdo, ele, na maioria das
vezes, sabia responder corretamente.
O QUERIDINHO MUNDO
A escola era
agradável, o dia era quente e a sala de aula era mais quente ainda. Naquele
dia, durante a manhã mais ensolarada que o normal – e nem era verão, começa um
burburinho na sala A. O assunto certamente era o calor e a professora, coitada,
tentava levar a diante sua aula. O burburinho que começou na sala A já estava
tomando conta das salas vizinhas e em pouco tempo tomou a escola por completo.
Dona Lola, inspetora da escola, ficou responsável para manter os alunos em
sala, porém, naquele fatídico dia D. Lola não conseguia nem mesmo manter a sua
saia no lugar quem dirá os alunos. Lola, para os íntimos, muito atrapalhada,
porém competente trabalha na escola todas as manhãs com um belo sorriso no
rosto haja sol ou chuva. Desde o sinal de entrada até o de saída, D. Lola dá
voltas e mais voltas pelo corredor e com sua voz estridente gritava os alunos
para voltarem as suas salas. Meio a tanta gritaria e alvoroço, eis que Fabinho,
aluno do 1º ano do Ensino Médio, volta para sua aula (A). Era aula de Geografia
do professor Raimundo, mais conhecido pelos alunos como professor Mundo.
Fabinho logo juntou a sua galera do “fundão” – Dinho, Marô, Nando, Lucas e Flor
faziam parte da galera do “fundão” junto com Fabinho.
Professor Mundo era o queridinho da
turma, os alunos poderiam não gostar da disciplina, mas com certeza gostavam de
Mundo. O tema da aula, era sobre os climas brasileiros, mas vamos pular essa
parte e ir direto para a atividade aplicada por Mundo. Sempre criativo e
inovador, o querido professor trouxe uma proposta diferente do normal ao
sugerir que os alunos saíssem da sala de aula e fossem todos para a quadra
poliesportiva da escola. Fabinho e sua turma levantaram eufóricos e bem
agitados, passaram correndo por Lola quase atropelando a coitada que estava em
sua rota matinal. Sem entender nada, pobre Lola, corria toda atrapalhada atrás
dos alunos gritando para que os mesmos voltassem para sala. Na tentativa
frustrada de agarrar o braço de Marô – a namoradinha de Fabinho, Lola levou um
belo escorregão em meio ao corredor. Ela não se machucou, graças a Deus D. Lola
é bem durona, sabe?! Marô, entre risos, explicou a Lola o motivo de todos terem
saído da sala. – Foi o professor Mundo que pediu para irmos à quadra. O mal
entendido foi explicado, logo em seguida, pelo próprio professor, assim que
chegou a quadra.
D. Lola ainda inconformada com o
ocorrido questionou ao querido Raimundo:
- Mas o senhor não dá aula de Geografia? Quer
fazer o que na quadra poliesportiva? Com um sorriso sincero e um olhar furioso,
o professor Mundo respondeu:
- A Geografia
está em todas as partes, e a senhora é minha convidada para assistir a minha
aula.
A D. Lola avermelhou-se na hora e ficou na
espreita assistindo a aula do queridinho como quem não quer nada, mas com um
olhar bem desconfiado.
O professor Raimundo continuou sua
aula e aproveitou o calor excessivo daquele dia para explicar os alunos o
clima, e cá entre nós nada melhor do que ver a explicação e todo o processo
acontecendo em sua volta. Durante a explicação, Fabinho e Marô não paravam de
falar, e sem perder o título de queridinho Mundo pediu para Fabinho deixar de
azarar a Marô durante a aula para namorar no intervalo escondidinho. Que
comédia é esse Mundo, hein! A aula terminou e os alunos nem estavam doidos para
ir embora. A galera do “fundão” ou do Fabinho são “fechamento” com o professor
Mundo, e terminaram a aula com uma pérola digna de ser contada. De acordo com a
“galera”:
- Pow prof.
Geografia é mais legal que Educação Física, a próxima aula podia ser na
rua.
Raimundo que não é bobo nem nada,
aproveitou a empolgação e preparou um trabalho para a próxima aula buscando atender
ao pedido da sua “galera”. Muitas vezes para fazer uma aula atrativa, ou
simplesmente conseguir a atenção dos alunos é preciso muito pouco. Em um dia
caloroso e alvoroçado o nosso “queridinho” saiu melhor que a encomenda.
As diferenças e o preconceito
Em uma cidadezinha lá
no interior do Estado do Rio de Janeiro, cujo seus governantes são tratados no
diminutivo há uma grande escola com diversas pessoas com realidades e cultura muito diferentes umas das outras. Em
uma aula de Geografia do 8º ano a professora havia preparado um trabalho com
eles sobre religião e danças típicas das regiões brasileiras. Três alunos
tinham preparado uma demonstração do Candomblé.
Após as apresentações
dos colegas, eles se preparam para suas interpretações do Candomblé. Um aluno
foi tão convincente na sua apresentação que os outros ficaram com medo dele
estar “possuído”. Ele vendo o medo dos colegas, começou a aterrorizar os demais
nas aulas. A partir desse dia, os colegas se afastaram dele e passaram a
excluí-lo das atividades em grupo.
Com isso, podemos
aprender que apesar de ser uma brincadeira simulando uma religião tradicional
da região do nosso país, o preconceito e a desinformação da religião, trouxe
efeitos negativos na vida do aluno, assim como acontece com os adeptos do
Candomblé.
Aprendendo a ensinar
Esse
fato aconteceu numa escola do município de Campos dos Goytacazes, com pouco
recurso didático e uma estrutura bastante deficiente se vista de perto.
Durante
o estágio do quinto período, deparei-me com uma situação complicada, comovente
e profundamente construtiva: Uma turma de 6º ano que não tinha professor
titular com um aluno surdo com dificuldades na fala e sem intérprete. O
primeiro fato levou a diretora da instituição a pedir que eu assumisse a turma
enquanto estivesse na escola estagiando. Ao assumir a turma encontro esse
presente, para uns seria um presente de grego, mas para mim foi uma forma de
crescer enquanto profissional e ser humano.
A
princípio, admito ter sido bem difícil a comunicação, já que não conhecia
nenhuma palavra ou sinal desta língua, o que me obrigava a usar sinais
universais, como positivo ou negativo. O “Juliano”, um mulato baixinho e de
olhos bem atentos, era um aluno muito inteligente, porém com suas capacidades
pouco exploradas pela ausência da comunicação. Apenas 3 colegas de sala
mantinham uma boa comunicação com ele, auxiliando a todos os professores ao
longo das aulas e com a explicação do conteúdo. A limitação da língua me
obrigou a explorar de forma mais profunda os poucos recursos que possuía: um quadro
negro e um giz branco, livro didático e a imaginação.
O
quadro vivia repleto de desenhos com setas e tentativas de globo terrestre.
Maçãs e celulares viraram, respectivamente, planeta Terra e Sol. Fiz caminho
fundo à mesa do “Juliano”. Alguns professores relataram a melhora dele em
outras disciplinas, talvez, acredito eu, que o rapazinho de apenas 11 anos na
época, tenha percebido que alguém se importava realmente como aprendizado dele
e não o via como empecilho ou um peso a carregar.
No
bimestre que tive a oportunidade de crescer com ele, pude perceber o quanto ele
aprendeu comigo. Infelizmente, com o corre-corre da vida cotidiana, não tive
oportunidade de procurá-lo e saber como anda sua educação, mas posso ter
certeza que para minha formação a passagem dele foi extremamente valiosa, pois
por ele eu quis aprender LIBRAS e dessa forma, no mínimo, cumprimentar um aluno
surdo ou mudo em sua própria língua.
Anitta e seu isolamento
Esse conto foi baseado em fatos reais ocorridos em uma escola pública do Estado do Rio de Janeiro.
Durante o estágio, eu observei que a aluna Anitta só
se sentava na primeira carteira sempre e não largava um livro de romance, levando-me
a crer que era uma menina muito sensível. A voz de locutora de aeroporto também
muito chamava a atenção, nas raríssimas vezes que falava, já que estava sempre
muito centrada na aula. Logo nas
primeiras aulas, simpatizei com a menina. Mas. com o passar das aulas, fui
observando que existia um isolamento da mesma com os colegas e aquilo começou a
me incomodar.
Até que, em certa ocasião, ao passar um trabalho em
grupo, Anitta me pediu para fazer sozinha. Questionada por que, deu-me uma
resposta evasiva. Ao abordar alguns grupos, verifiquei que ninguém demonstrou a
menor vontade em tê-la como componente.
Nesse dia, pude constatar que algo de muito errado
ocorria. Como havia me simpatizado com Anitta, senti-me na obrigação de
descobrir o que de fato ocorria.
Aproximei-me
de Anitta e tentei de forma amena, se é que se consegue abordar uma aluna de 16
anos dessa forma, e questionei a mesma se algo de errado ocorria entre ela e a
turma. Ela disse que não e afirmou que gostava de fazer trabalhos sozinha, pois
assim se sentia mais a vontade. A resposta dela não me convenceu e continuei
minha busca, fiz alguns questionamentos a alunos da turma e, para minha
surpresa, descobri o que provalvemente imaginava e não queria admitir. Contaram-me
que, no ano anterior, Anitta foi flagrada no banheiro masculino fazendo sexo
oral. A informação soou como uma bomba para mim. Perguntava-me como lidar com
aquela situação, como fazer Anitta ser aceita no grupo social de novo. Ouvi
diversos relatos de outros alunos que até acreditavam que a mesma nunca mais
fez aquilo, mas todos confirmaram que era verdade. Razão pela qual ficou
evidente para mim porque ela não era aceita nos trabalhos em grupo.
Tomei coragem e fiz uma abordagem mais
direta a ela, apesar de confirmar o fato, disse que não foi com ela. Entendi
que era uma forma de me dizer que era tudo verdade, ela me disse que era uma
amiga muito próxima dela e ficou tudo na conta dela. Perguntei-a por que sua
amiga não saiu da escola, ela disse que era a escola perto da casa da amiga, outras
seriam muito longe.
Agora levo a todos meu grande questionamento:
Como fazer com que a turma volte a interagir
positivamente com Anitta?
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