terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Anitta e seu isolamento


Esse conto foi baseado em fatos reais ocorridos em uma escola pública do Estado do Rio de Janeiro.



Durante o estágio, eu observei que a aluna Anitta só se sentava na primeira carteira sempre e não largava um livro de romance, levando-me a crer que era uma menina muito sensível. A voz de locutora de aeroporto também muito chamava a atenção, nas raríssimas vezes que falava, já que estava sempre muito centrada na aula.  Logo nas primeiras aulas,  simpatizei com a  menina. Mas. com o passar das aulas, fui observando que existia um isolamento da mesma com os colegas e aquilo começou a me incomodar.
Até que, em certa ocasião, ao passar um trabalho em grupo, Anitta me pediu para fazer sozinha. Questionada por que, deu-me uma resposta evasiva. Ao abordar alguns grupos, verifiquei que ninguém demonstrou a menor vontade em tê-la como componente. 
Nesse dia, pude constatar que algo de muito errado ocorria. Como havia me simpatizado com Anitta, senti-me na obrigação de descobrir o que de fato ocorria.
  Aproximei-me de Anitta e tentei de forma amena, se é que se consegue abordar uma aluna de 16 anos dessa forma, e questionei a mesma se algo de errado ocorria entre ela e a turma. Ela disse que não e afirmou que gostava de fazer trabalhos sozinha, pois assim se sentia mais a vontade. A resposta dela não me convenceu e continuei minha busca, fiz alguns questionamentos a alunos da turma e, para minha surpresa, descobri o que provalvemente imaginava e não queria admitir. Contaram-me que, no ano anterior, Anitta foi flagrada no banheiro masculino fazendo sexo oral. A informação soou como uma bomba para mim. Perguntava-me como lidar com aquela situação, como fazer Anitta ser aceita no grupo social de novo. Ouvi diversos relatos de outros alunos que até acreditavam que a mesma nunca mais fez aquilo, mas todos confirmaram que era verdade. Razão pela qual ficou evidente para mim porque ela não era aceita nos trabalhos em grupo.

            Tomei coragem e fiz uma abordagem mais direta a ela, apesar de confirmar o fato, disse que não foi com ela. Entendi que era uma forma de me dizer que era tudo verdade, ela me disse que era uma amiga muito próxima dela e ficou tudo na conta dela. Perguntei-a por que sua amiga não saiu da escola, ela disse que era a escola perto da casa da amiga, outras seriam muito longe.

Agora levo a todos meu grande questionamento:
Como fazer com que a turma volte a interagir positivamente com Anitta?

2 comentários:


  1. Ao longo dos anos, o ambiente escolar, tem sofrido uma metamorfose que pode ser notada em vários aspectos, a escola como fundada deve zelar e ser comprometida com a aprendizagem e bem estar do aluno, entretanto a escola tem sido palco de comportamento e atitudes que envolvem violência e ausência de ética moral.Esse fenômeno de mal estar no ambiente escolar sofrido por um aluno, é conhecido como bullying, e segundo Leão caracteriza – se por

    ser um problema mundial encontrado em todas as escolas, sejam elas privadas ou públicas, o que vem se expandindo nos últimos anos. A conduta bullying nas instituições de ensino tem sido um sério problema, pois gera um aumento significativo da propagação da violência entre os alunos. (LEÃO, 2010, p.119)

    Ao analisar a situação descrita no conto acima é notável ausência de ética moral e a conduta de bullying é realçada, pois o comportamento de um aluno se tornou reflexo dos apontamentos que sofria pelos amigos de classe. O fenômeno do bullying apresenta-se de forma velada, intencional e repetitiva, dentro de uma relação desigual de poder, por um longo período de tempo contra uma mesma vítima, sem motivos evidentes, adotando comportamentos cruéis, humilhantes e intimidadores, gerando consequências irreparáveis, sejam elas físicas, psíquicas, emocionais ou comportamentais, muitas vezes a prática do bullying é considerada pelos pais e professores como brincadeiras de criança,briguinhas que envolvem xingamentos e ofensas, mas que passam e, em alguns momentos são desvalorizadas e a até ignoradas, está longe de ser um comportamento normal e aceito em um ambiente escolar.
    As vítimas, muitas vezes, sofrem caladas, carregando o trauma das situações de constrangimento que vivenciaram para o resto de suas vidas, gerando consequências na fase adulta como problemas de interação e relacionamento com outros sujeitos (LEÃO, 2010). Durante a leitura do conto nota-se exatamente o tipo de comportamento que Leão define em seu artigo, o conto nos descreve a história de Anitta, uma menina que por conta de uma atitude, é encarada negativamente pelos seus companheiros de classe e acaba por sofrer as consequências dessa negação.
    Segundo Leão, as consequências do bullying podem levar a traumas e danos do aluno, podem refletir na autoestima do aluno, processo de aprendizagem, podem gerar problemas irreparáveis que podem refletir na vida familiar e profissional desse aluno. Apesar do bullying ser um fenômeno antigo no ambiente escolar, esse fenômeno só passou a ser objeto de investigação na década de 1970, a partir desse momento diversos estudos foram realizados e até os dias atuais o tema continua sendo investigado e pretende-se extinguir tal comportamento no ambiente escolar.
    A revista Educar para crescer em uma de suas edições aponta 10 dicas de como acabar com o bullying no ambiente escolar, entre elas, o respeito e palestras na própria escola se apresenta como elementos essenciais para extinção do bullying.
    Com iniciativas de estudo do bullying na escola, tem por objetivo acabar com opressão de alunos sob alunos, para que comportamento como o da Anitta, protagonista do conto “Anitta e seu isolamento” não seja uma prática comum no ambiente escolar.


    REFERÊNCIAS

    LEÃO, Letícia Gabriela Ramos. O fenômeno bullying no ambiente escolar. Revista FACEVV, Vila Velha, n. 2, p. 119 – 135, Jan./Jun. 2010.

    TAKASHINA. Luise; PINHEIRO, Karolina. 10 passos para acabar com bullying. Revista Educar para Crescer.

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  2. O “fenômeno bullyng no ambiente escolar” envolve vários atores “o agressor”, “a vítima”, “o espectador”, “os representantes da escola”, “a família” e conjuntos de ações, reações e, principalmente, intervenções educativas. Trata-se de um fenômeno que vem tomando proporções negativas tais como “danos e traumas irreparáveis na vida da criança, podendo refletir desde logo, como por exemplo, baixa autoestima, estresse, depressão, queda no rendimento escolar, pensamentos de vingança para com o agressor e até mesmo suicídio”. (Leão, 2010, p. 120)
    No caso em questão apresentado neste conto, compreendo que o estudante (estagiário) deveria buscar apoio junto a coordenação pedagógica da escola no sentido de identificar as causas do isolamento de “Anitta” e, desta forma, atuar de forma mais pedagógica no sentido fortalecer os laços entre os alunos e “Anitta”.
    Em seu artigo 4º as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (2012) prevê “A Educação em Direitos Humanos como processo sistemático e multimensional, orientado da formação integral dos sujeitos de direitos”, articulando-se entre outras com a seguinte dimensão “afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade”, portanto, esta é uma situação que cabe a todos nós (comunidade educativa) a prática da urgência por uma educação voltada para a construção e valorização da cidadania e dos direitos humanos, já que a escola se compromete ao papel da aprendizagem e do bem-estar da criança. Neste âmbito, o Bullying precisa ser encarado como manifestação da violência, pois este reflete na sociedade com práticas intolerantes e individualistas, aderindo comportamentos intimidadores e humilhantes gerada por uma relação desigual de poder, levando às consequências provindas da necessidade que o sujeito tem de se impor sobre o outro.
    Considerando tais manifestações do tipo de violência é necessário que por parte da escola seja mediado tal conflito com resoluções pacíficas e pedagógicas, no que é possível. E aos pais cabem estar atentos a qualquer tipo de modificação comportamental de seu filho, bem como serem participativos de diálogos, carinhos, limites... que proporcionarão a construção de indivíduos respeitosos, tolerantes e responsáveis.

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