Esse
fato aconteceu numa escola do município de Campos dos Goytacazes, com pouco
recurso didático e uma estrutura bastante deficiente se vista de perto.
Durante
o estágio do quinto período, deparei-me com uma situação complicada, comovente
e profundamente construtiva: Uma turma de 6º ano que não tinha professor
titular com um aluno surdo com dificuldades na fala e sem intérprete. O
primeiro fato levou a diretora da instituição a pedir que eu assumisse a turma
enquanto estivesse na escola estagiando. Ao assumir a turma encontro esse
presente, para uns seria um presente de grego, mas para mim foi uma forma de
crescer enquanto profissional e ser humano.
A
princípio, admito ter sido bem difícil a comunicação, já que não conhecia
nenhuma palavra ou sinal desta língua, o que me obrigava a usar sinais
universais, como positivo ou negativo. O “Juliano”, um mulato baixinho e de
olhos bem atentos, era um aluno muito inteligente, porém com suas capacidades
pouco exploradas pela ausência da comunicação. Apenas 3 colegas de sala
mantinham uma boa comunicação com ele, auxiliando a todos os professores ao
longo das aulas e com a explicação do conteúdo. A limitação da língua me
obrigou a explorar de forma mais profunda os poucos recursos que possuía: um quadro
negro e um giz branco, livro didático e a imaginação.
O
quadro vivia repleto de desenhos com setas e tentativas de globo terrestre.
Maçãs e celulares viraram, respectivamente, planeta Terra e Sol. Fiz caminho
fundo à mesa do “Juliano”. Alguns professores relataram a melhora dele em
outras disciplinas, talvez, acredito eu, que o rapazinho de apenas 11 anos na
época, tenha percebido que alguém se importava realmente como aprendizado dele
e não o via como empecilho ou um peso a carregar.
No
bimestre que tive a oportunidade de crescer com ele, pude perceber o quanto ele
aprendeu comigo. Infelizmente, com o corre-corre da vida cotidiana, não tive
oportunidade de procurá-lo e saber como anda sua educação, mas posso ter
certeza que para minha formação a passagem dele foi extremamente valiosa, pois
por ele eu quis aprender LIBRAS e dessa forma, no mínimo, cumprimentar um aluno
surdo ou mudo em sua própria língua.
Os desafios da inclusão escolar têm sido constantes em nossos dias. A escola contemporânea tem enfrentado inúmeras necessidades de superação. A leitura do conto nos leva a refletir sobre a problemática e também deixa alguns questionamentos. De acordo com a Lei 9.394/96, no capítulo V, entende-se por educação especial “a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Havendo, “quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial” (BRASIL, 1996, cap. V).
ResponderExcluirA lei supracitada garante também, no artigo 59, ao aluno especial, “III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns” (BRASIL, 1996, art.59), assim, a regulamentação da Educação Especial está baseada nos princípios da inclusão, educação para todos.
Analisando a situação atual, Maria Cândida Moraes, aborda o paradigma educacional emergente e destaca a importância da escola perceber que sua missão mudou, em vez de atender uma massa de alunos, é necessário focalizar o indivíduo, sujeito singular e único (MORAES, 2005, p. 15). Para Silva, 2010,
Neste sentido o papel da escola é formar e preparar todos, mas em especial a pessoa com deficiência para conquistar seu espaço na sociedade atual, onde os ideais capitalistas cruéis e excludentes continuam fazendo seleção utilizando a lei do mais forte. O mercado de trabalho é muito competitivo e a preparação da escola, família e principalmente o interesse e a determinação são fundamentais, para uma formação consciente e independente (SILVA, 2010, p. 17).
Portanto, para que de fato aconteça a inclusão é necessário a atuação de professores capacitados, o que ainda não é regra no Brasil, e sim exceção. Segundo Fogaça,
Os professores enfrentam dificuldades não só em transmitir para esses alunos as disciplinas específicas em suas áreas de formação, mas falta também o próprio conhecimento “para lidar com a língua brasileira de sinais (libras) e com a presença de intérpretes em suas aulas” (SILVEIRA e SOUZA, 2011, p. 38) (FOGAÇA, s.d).
Jennifer Fogaça aponta que a educação inclusiva no Brasil ainda está em estágio inicial, sendo necessários apoio e investimentos governamentais na formação continuada dos profissionais da educação (FOGAÇA, s.d), com isso, tem-se a perspectiva de uma escola inclusiva e eficiente para o atendimento de alunos especiais, saindo do estágio utópico e entrando na dimensão real.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2015, 18h 24min.
FOGAÇA, Jennifer. Educação Inclusiva: Existem muitos problemas que impedem que a educação inclusiva atinja o objetivo desejado, um deles é o despreparo dos professores. Canal do educador. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2015, 11h 32min.
MORAES, M. C. . O Paradigma Educacional Emergente. In: Ricardo Vidigal da Silva. (Org.). Educação, Aprendizagem e Tecnologias: Um paradigma para professores do século XXI. 01 ed.Lisboa: Edições Sílabo, 2005, v. 01, p. 01-22.
SILVA, Gislaine Costa da. Inclusão: escola e sociedade. In: Aluno cego no ensino regular: possibilidades e limitações. 2010. 55f. TCC (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma, 2010. Disponível em: http://repositorio.unesc.net/bitstream/handle/1/143/Gislaine%20Costa%20da%20Silva.pdf?sequence=1. Acesso em: 15 mar. 2015, 10h 45min.