sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Futuro rifado

Era uma vez uma turma de Ensino Médio muito grande, cerca de 45 alunos. Eu, uma estagiária, que não tinha muito tempo para ficar com eles. Todos os dias, eu chegava nesta turma e não tinha nem uma carteira para eu sentar. A turma era muito bagunceira, as carteiras ficavam fora da fila, eram usadas para colocar os pés e os materiais, havia lixo no chão e muita algazarra. Eles mal respeitavam o seu próprio professor e eu ficava a me perguntar se eles me respeitariam.
Até que um dia, uma menina - em plena aula - me pediu para comprar uma rifa, disse que era para a formatura da turma. Não demorou e juntou em minha volta um grupinho insistindo para eu comprar a rifa, disse simplesmente que depois da aula a gente conversava, pois estávamos atrapalhando. Até que a aula acabou e elas vieram novamente pedir para eu comprar a rifa, perguntei sem medo como elas poderiam estar pensando em formatura se mal prestavam a atenção na aula, se elas achavam que tinham feito um bom Ensino Médio e se estavam preparadas para enfrentar o mundo lá fora. Pedi para que olhassem em volta da sala e vissem a zona que estava àquela sala de aula, então me levantei e comecei a recolher o lixo no chão e a arrumar as carteiras no lugar, então elas vieram me ajudar.

     Comprei a rifa e disse que no dia seguinte daria uma aula de um assunto muito interessante e que deveriam prestar atenção. No dia da aula, quando cheguei, elas deram um “Bom dia, professora!” e arrumaram uma carteira para eu sentar até que o professor anunciou a minha aula e pediu a colaboração de todos. Acho que isso ajudou um pouco para o desenvolvimento da aula já que as próprias alunas chamavam a atenção de seus colegas quando começava a tumultuar.

Um comentário:

  1. No texto Futuro Rifado a estagiária de licenciatura em geografia estava desenvolvendo o estágio em uma turma grande de ensino médio, onde os alunos não tinham disciplina nem recursos materiais para o desenvolvimento de uma boa aula, já que até carteiras faltavam na sala de aula. Uma das justificações para toda essa falta de interesse e motivação, tem como explicação a crise dos sentidos segundo o texto de Celso dos S. Vasconcellos (1) Os Desafios da Indisciplina em Sala de Aula e na Escola. Se antes o acesso à escolarização era uma forma de alcançar ascensão social, sucesso profissional e a chance de “ser alguém na vida”, hoje essa visão não é consenso, pois existem muitos profissionais diplomados sem emprego.
    “Este sentido extrínseco ao processo pedagógico foi a tábua de salvação de muitos professores: os alunos não viam sentido no que estavam fazendo, mas tinham em mente a perspectiva de uma recompensa mais tarde. Este era o "projeto educativo" de milhares de educadores. Hoje, os alunos continuam não vendo sentido nas práticas de sala de aula, e não vislumbram mais um futuro promissor pela via do diploma. O professor que baseava sua autoridade neste mito está perdido. E, o que é pior, não tem conseguido articular outro sentido para o conhecimento, a escola, o estudo.”
    Além desses existem outros fatores que levem ao descredito na educação e na falta de perspectiva dos próprios professores como a crise de limites e a “sensação de não poder” que paralisam alguns educadores. Quando a estagiária foi solicitada a participar da rifa e questionou toda a falta de estrutura em que a turma se encontrava, ela demostrou interesse pelo futuro desses alunos, levando os mesmos a repensarem sobre o que eles estão fazendo e o que pretendem do amanhã, ganhando assim o respeito dos mesmos.

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