A partir do 6º período, comecei a
ter contato com os alunos do Ensino Médio. Desde então, notei em sala já nos
primeiros encontros que tive com a turma do 1º ano do Ensino Médio, a presença
de um adolescente que em meio à turma se sobressaia dada a sua estatura
diferenciada cerca de 1.90m, e que todas as conversas da turma tinha como ponto
de partida o Luís Gustavo de 17 anos, mais conhecido como “Djavan” devido aos
cabelos longos e encaracolados, e pelo violão que gostava de tocar.
Djavan,
em todas as aulas, falava muito e buscava atenção para si, de forma que eu e o
aluno da UFF - enquanto estagiários na turma - começamos a perceber que seu
comportamento dificultava a aplicação da aula pelo professor que ao entrar a
sala já colocava uma tabela especificando desconto nos pontos dos alunos caso
houvesse algum caso de indisciplina. Normalmente essa tabela trazia a seguinte
informação: menos cinco pontos. Logo, todo aluno que se comportava “fora dos
padrões desejados pelo professor” tinha seu nome escrito naquela tabela
indicando menos cinco pontos na avaliação.
Certo
dia, em conversa em um dos intervalos, surgiu entre nós estagiários a ideia de
nos aproximarmos do Djavan, já preocupados com o nosso futuro, pois teríamos
que dar aula na turma e não queríamos que fosse aplicado aquele tipo de punição
aos alunos.
Fizemos
um primeiro contato em um dos intervalos e começamos adquirir confiança dele.
Em outro dia, o outro estagiário lhe fez algumas perguntas, e dentre elas se o
Djavan praticava alguma atividade física, ou algum esporte. Ele perguntou
também quais eram as pretensões profissionais do rapaz. Para nossa surpresa, Djavan relatou que esporadicamente
jogava futebol com os amigos. Surgiu então a ideia de perguntar se ele gostaria
de tentar jogar basquete, sua resposta foi que
iria tentar e, posteriormente, nos falaria.
Interessante
que Djavan passou a jogar basquete e ao longo do período que estivemos juntos
sempre conversávamos, isto acontecia antes da aula, nos intervalos e, às vezes,
a conversa ia além da sala de aula, nas redes sociais.
Finalmente, chegou o dia de
aplicação da aula e Djavan já estava “de bem” conosco e com a turma. A aula
fluiu tranquilamente. Recentemente, em conversa com ele, perguntei se ele já
tinha em mente que caminho gostaria de seguir profissionalmente. Sua resposta
me surpreendeu: jogador de basquete, caso não consiga obter êxito, Professor de
Geografia, logo o animei. Disse que estava surpreso pelo que ouvi, mas que seu
desempenho nas disciplinas Geografia e Física são ótimos e – se por ventura
escolher ser professor – será um bom caminho.
O
que nos deixou perplexos foi ver que uma tentativa de nos darmos bem na aula que
iríamos aplicar poderia contribuir para ajudar o adolescente melhorar o
comportamento em sala e também levá-lo a fazer escolhas relacionadas ao seu
futuro.
O conto analisado reflete a realidade das escolas hoje, a indisciplina dos alunos na sala de aula, que é um grande desafio encontrado pelos professores tanto nas escolas públicas como nas escolas particulares, que acabam sendo consequência do magistério. No conto os estagiários usaram uma estratégia eficiente que foi de aproximar o aluno da escola através do esporte, o que acabou auxiliando positivamente no seu comportamento na sala de aula.
ResponderExcluir“A questão da disciplina pede, para seu enfrentamento, a ajuda de um conjunto de áreas do conhecimento, como a Sociologia, Antropologia, Psicanálise, Ética, Política, Psicologia, Economia, História, Tecnologia, Comunicação Social, além dos próprios saberes pedagógicos. Outro fato a ser considerado é que a disciplina é apenas um aspecto do processo de educação escolar, que por sua vez também é extremamente complexo e exigente, uma vez que se trata de participar da formação, ao mesmo tempo, de trinta, quarenta ou mais sujeitos.” (VASCONCELOS, 1997 p. 229).
Como cita VASCONCELOS, a questão da disciplina dos alunos ela requer muito além dos saberes pedagógicos, como mostrou os estagiários no conto eles tiveram a expertise de captar a potencialidade do aluno que tinha indisciplina e souberam usar a favor do aluno e do próprio professor, tendo maior sucesso nas aulas e um impacto positivo na própria vida do aluno.
Texto: Celso dos S. Vasconcellos, Os Desafios da Indisciplina em Sala de Aula e na Escola.
Disponível: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_28_p227-252_c.pdf