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ra uma tarde. Treze de junho de dois mil
e treze, quinta-feira. Escobar se prepara e sai para estagiar, desce pela Rua JPX.
Já são quatorze horas e a aula de geografia na 802 começa daqui a dez minutos. É
preciso andar bem rápido! Sorte de Escobar que entre ele e a escola tem apenas
uma ponte para atravessar e em cinco minutos conseguirá cruzar o portão de
entrada do colégio.
Ufa, que correria! Escobar
chega à escola, saúda Luz, a senhora responsável pela portaria e já se dirige à
sala de número cinco, a sala da turma 802. Poucos alunos estavam no recinto,
pois o professor antecedente à professora de geografia havia liberado a turma
alguns minutos antes do sinal, mas era perceptível uma grande quantidade de
mochilas sobre as mesas (durante a aula, pode-se constatar a presença de vinte
e oito alunos). Escobar cumprimenta os alunos, pede licença e procura, logo, um
lugar no fundo da sala em posição estratégica para que pudesse observar todos
ao mesmo tempo. Era o sexto dia de Escobar no campo de estágio e a primeira vez
naquela turma. Para os alunos tudo parecia novidade, alguns perguntavam:
_ Você é aluno novo?
_ Vai estudar com a
gente?
_ O que está fazendo
aqui? Veio nos vigiar?
_ Veio substituir a
professora?
Era necessário ter
paciência e responder cada questionamento, explicando a cada um que ele era
apenas um estagiário. Para alguns era difícil compreender a função de um
estagiário, então, por alguns minutos foi necessário explicar com detalhes a
sua função naquele lugar. Uns compreenderam, outros se espantaram repudiando a
pessoa do professor enquanto profissional: _ “Professor! Isso não dá dinheiro”.
Talvez esse seja o maior
interrogatório em menor tempo, parecia um Tribunal Romano, mas todo esse
turbilhão logo foi encerrado, a professora chegou...
Catarina. Professora
Catarina, esse era o seu nome (derivado do grego e com um belo significado:
pura. Quanta pureza!). Saudou a turma com boa tarde, deixou a bolsa sobre a
mesa e retornou à sala dos professores. Demonstrou ter esquecido alguma coisa,
e realmente esqueceu. Voltou à sala de aula com um Mapa Mundi na mão. A turma
parecia uma colmeia zangada, o barulho era espantoso. Escobar permanecia
sentado, apenas observando e respondendo aquilo que lhe perguntavam. Catarina
pede silêncio, o ruído diminui.
Junho de dois mil e
treze era um momento especial para o esporte brasileiro, ou melhor, para o
futebol, naquela semana se daria a abertura da Copa das Confederações. Este foi
o motivo que fez Catarina retorna à sala dos professores e trazer consigo um
mapa. Durante a semana ela assistiu pela TV uma reportagem sobre as delegações participantes
da Copa das Confederações e muitos telespectadores estavam confundindo Taiti, Haiti
e Havaí, ou diziam desconhecer tais territórios. Catarina então justificou com os alunos que
esse não seria o tema da aula, mas que na condição de professora de geografia
era necessário esclarecer estas dúvidas. E assim fez.
Com toda essa cerimônia
já se passavam uns vinte e cinco minutos da aula. Então Catarina pede para que
abram os livros na unidade oito. Nesse instante a aula é interrompida... João,
aluno daquela turma resolve chegar para aula naquele momento, até aí tudo bem, “melhor
chegar atrasado que não vir”, argumentou um colega. João pede licença. A professora
concede. Não satisfeito somente em chegar atrasado, entra em sala e já começa a
perturbar a atenção dos colegas, chama, puxa, fala, pega o celular, interrompe
Catarina. Por algumas vezes Catarina pediu silêncio, mas de nada adiantou. “Paciência
tem limite”, brada a professora com os olhos arregalados e com a aparência de
um ser que encontra uma assombração. Escobar fica constrangido, mas procura não
demonstrar.
_ Fora! Saia da minha
aula. Chega atrasado e não dá sossego, da próxima vez não venha, gritava
Catarina.
Abre-se, nesse momento,
um parêntese na imaginação de Escobar: estaria a professora estressada e sua
atitude foi influenciada por tal estresse ou não? Ou quem sabe, realmente, o
João estava atrapalhando o desenvolvimento da aula? Talvez um pouco mais de
diálogo resolvesse a situação. A confusão mental, por alguns segundos, pairou
sobre a cabeça do estagiário Escobar.
Catarina pede a Bia
(aluna da classe) que chame Belinha, para quem não conhece, é a inspetora de
alunos. Belinha veio e levou consigo o João (...). Após esse contratempo a aula
seguiu normalmente, Catarina concluiu a explicação do conteúdo e aplicou uma atividade.
O sinal bateu, já se passavam das quinze horas e quarenta minutos. O tempo
acabou. Catarina deixa o seu último recado: “na próxima aula teremos revisão
para a prova”. Os alunos saem. Nesse momento, fica na sala somente Catarina e
Escobar. O estagiário solicita que ela assine a ficha de registro do estágio.
Em seguida agradece, deseja-lhe uma boa tarde e retira-se da sala.
Como estagiária de Geografia, são perceptíveis os desafios enfrentados pelos educandos em sala. A realidade de indisciplina vivenciada por eles tem crescido cada vez mais, o que faz com que o professor muitas vezes pense até em abandonar sua profissão.
ResponderExcluirComo se o processo de ensino-aprendizagem não fosse complexo o suficiente, comportamentos de desrespeito e agressivos, fazem com que o trabalho de ensinar seja muito difícil. Se o mesmo não entender que para ser professor hoje é necessário abrir mão de si mesmo, ele não suportará a pressão de diversas situações do dia a dia.
Vejo que essa profissão atualmente deve ser comparada a um casamento, da mesma forma que para um casamento dar certo ambos precisa deixar suas próprias vontades, para respeitar, amar e ajudar um ao outro, nessa profissão também é assim, o professor tem que assumir uma posição de amor e dedicação para conquistar seus alunos. Não foi percebido esse tipo de postura na professora acima, talvez se ela tivesse se aproximado dele e perguntado se algo estava acontecendo, tudo pudesse ser diferente.
No texto de Vasconcellos, Os desafios da indisciplina em sala de aula e na escola, ele afirma que "A partir do exposto até aqui, fica claro que um dos maiores desafios é o resgate do professor como sujeito de transformação: acreditar que pode, que tem um papel a desempenhar muito importante, embora limitado. Acreditar na possibilidade de mudança do outro, de si e da realidade. (1996, p.237)